O papel das associações profissionais

Na vária literatura publicada sobre associações profissionais, não encontramos grandes diferenças na sua definição: uma organização sem fins lucrativos, uma entidade representativa dos membros de uma classe profissional, que tem como objectivos defender a profissão e promover uma maior interlocução entre os seus membros e destes com a sociedade.

Segundo David Pritchard1, é a face pública e a voz da profissão; promove o progresso da profissão e o benefício para os seus detentores; assegura que os padrões técnicos e éticos são mantidos e melhorados; mantém uma vigilância sobre as necessidades de educação e formação contínuas não só para benefício dos seus membros mas também para contribuir para o bem da sociedade.

1 The nature and purpose of professional association. Aust Vet J. 2003. vol. 81(8): 453
É integrado numa associação que o profissional dá verdadeiramente corpo institucional e visibilidade pública à sua profissão. Fora da associação, o profissional é um trabalhador isolado, mesmo quando trabalha, em equipa, com outros profissionais com o mesmo grau académico. Nessa situação, não vai estar envolvido em nenhuma causa ou objectivo comum à sua classe profissional e por conseguinte enfraquecerá a sua capacidade subjectiva e objectiva de realização própria profissional e de prossecução do interesse público.

No nosso país, certas profissões estão organizadas juridicamente em ordens profissionais (associações públicas) as que obrigam os seus profissionais a inscrição e até mesmo, nalguns casos, a um exame de ingresso.
Outros profissionais estão integrados em associações privadas sem fins lucrativos, sendo que estas, reguladas exclusivamente pelos próprios estatutos, não obrigam a inscrição para o exercício da actividade profissional.
As associações profissionais privadas, entre as quais a APDIS se integra, distinguem-se das associações públicas, em primeiro lugar, porque é respeitado o princípio da liberdade de adesão, mesmo quando têm algum papel no controlo das condições de exercício e na definição dos diplomas e títulos que dão acesso à profissão2.

2 RODRIGUES, Maria de Lurdes. Entre o público e o privado: associativismo profissional em Portugal, in Associações Profissionais em Portugal. Oeiras: Celta, 2004. Pp. 282-9
Porquê é tão importante a integração de um profissional numa associação?
Acima de tudo é importante para a PROFISSÃO e, consequentemente, para o PROFISSIONAL.
O espaço associativo permite aos profissionais encontrarem-se, trocar ideias, resolver conflitos e encontrar soluções para problemas comuns. Permite também uma educação e formação contínuas, através da edições de periódicos – revistas, newsletters – e da organização de cursos, acções de formação e eventos – congressos, jornadas.
Há uma questão bastante recorrente cujos ecos nos chegam, amiúde, que é a seguinte: não será melhor para um qualquer profissional demitir-se da sua associação quando a direcção da mesma não é competente ou merecedora de confiança ou respeito no desempenho das suas funções (funções essas que no fundo consubstanciam os instrumentos necessários à realização dos compromissos eleitorais assumidos perante os associados)?
Do nosso ponto de vista, esta questão está colocada a partir de um ângulo de observação errado! A verdadeira questão é, no fundo, saber-se o que é que os associados fizeram, ou devem fazer, individualmente e colectivamente, qual o seu empenho activo para terem direcções fortes, competentes e empreendedoras nas suas associações. A fortaleza de uma associação é um pilar base para o sucesso profissional de qualquer classe. É portanto sobre o poder, credibilidade e prestígio públicos das associações de classe que se constrói verdadeiramente a identidade de qualquer profissão útil e respeitada.
As associações profissionais têm percursos, têm história e essa história é um património precioso de sucessos e insucessos, de vitórias e derrotas. Esse património foi, contudo, sendo construído paulatinamente, em continuidade, num fluxo ininterrupto alimentado por convicções fortes e sólidas, e discernimento, e por muitas boas vontades. Se um dia se rompesse essa torrente de vida que as associações representam, a sucessão contínua e renovada no tempo de direcções democraticamente eleitas em Assembleias Gerais, nesse dia os profissionais ficariam seguramente mais pobres…
E não será despropositado relembrar que a associação profissional não tem desígnios exclusivamente técnicos, também os de natureza ética e deontológica se enquadram na sua missão. E quando se fala de ética e deontologia, pertenço ao número daqueles e daquelas que não acreditam que tais desideratos se atinjam por mera via da perfeição pessoal, ou seja auto-regulação, conseguida no casulo dourado da individualidade. Para esse efeito, há necessidade imperiosa de regulação, de autoridade exterior emanada de algo que transcenda o profissional exclusivamente na sua individualidade. 3

A APDIS foi criada em 1991. Durante estes 23 anos, colegas nossos estiveram voluntariamente ao serviço da Associação nos seus órgãos sociais, nomeadamente nas Direcções, onde generosamente têm tido um papel muito activo nas, por vezes desgastante, tarefas executivas.
Umas Direcções mais que as outras, o que é natural, envolveram-se no trabalho da Associação, sacrificando os seus membros tantas vezes as suas vidas pessoais, familiares e até mesmo as obrigações profissionais nos seus locais de trabalho.
O balanço do trabalho no seu conjunto tem sido positivo e se hoje temos uma Associação renovada pela actual Direcção em exercício é porque houve outras Direcções que contribuíram a seu modo para o que somo hoje.
Nestes dois mandatos, a actual Direcção renovou as infraestruturas da APDIS: informatizou a contabilidade, modernizou a LAO e o RBAS, reconstruiu a página web (ainda em reconversão), modernizou o funcionamento administrativo e organizou duas Jornadas; conseguiu um espaço, através da Câmara de Lisboa para Sede; iniciou a edição do Ponto de Encontro em formato digital, tendo agora dado início à Newsletter; para além dos eventos que organizou, das Assembleias Gerais, de actividades internas como reuniões, etc, etc.
A missão dos 5 membros da actual Direcção foi e continua a ser como sempre dar cumprimento aos compromissos expressos nos seus programas de acção.
E tem-se feito o possível para isso, embora com falhas, que assumimos.
Por exemplo, neste momento, temos consciência de falhas na comunicação com os associados e com outros membros ligados a instituições. Mas, por outro lado, estamos a tratar de outras prioridades como sejam: A sede – aquisição de mobiliário e entrada de um funcionário -, que embora inaugurada ainda não tem condições para estar permanentemente aberta aos associados e ao público e podermos finalmente organizar aí seminários, acções de formação, encontros, etc. Estamos a rever a página Web, na qual encontrámos algumas dificuldades na introdução de dados. Estamos a angariar mais bibliotecas para a introdução dos respectivos registos de publicações periódicas na LAO e, ao mesmo tempo, novos assinantes. Estamos a dar início à nossa “Newsletter”, sendo esta esta já o seu segundo número.
O que é que se pede, afinal, aos colegas da profissão? Em primeiro lugar que QUE SE TORNEM e/ou SE MANTENHAM COMO ASSOCIADOS pois o número de membros é um dos elementos (os outros já foram enunciados atrás) que garantem a uma Associação o respeito dos associados, da comunidade e das instituições.
O que é que se pede, depois, aos associados? QUE COLABOREM. Que critiquem, mas que participem na identificação e correcção das concepções, atitudes, e práticas criticáveis. Que dêem sugestões, mas que sejam proactivos. 4

A sociedade contemporânea está fortemente influenciada por valores individualistas. Isso, em si, não terá, por princípio, nada de condenável desde que não extremados. As associações profissionais permitem nesse contexto ao indivíduo um tipo de vivência com elevação: construída, por um lado, sem prejuízo da sua personalidade própria e diversa; e beneficiada, por outro lado, pelas sinergias que lhe são transmitidas, pelo colectivo, constituído pelos membros da sua associação profissional e pelo reconhecimento que lhe é conferido pela sociedade envolvente.
Margarida Meira
9.10.2014